sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tesouro com 4526 moedas


Eduardo Pinto


"Valor comercial não tem nenhum, mas o histórico é enorme!". O arqueólogo António Sá Coixão refere-se ao tesouro de 4526 moedas romanas achado, há dias, no Vale do Mouro, freguesia da Coriscada, Meda. Embrulhado num saco de serapilheira resistiu 16 séculos, desde que escondido supostamente por um ferreiro na parede da sua casa, até ser encontrado no último dia de uma campanha de escavações do que parece ser um "vicus", uma aldeia do tempo do império romano.Andavam dois trabalhadores a fazer as arrumações finais quando um deles deu por uns "ferragachos" (utensílios em ferro), que saíam de um murete da escavação. Foi ao retirá-los que acabou por aparecer o que se assemelhava a um embrulho. Veterano da arqueologia, Sá Coixão desconfiou do que se preparava para descobrir - há cinco anos tinha encontrado cerca de 400 moedas em Freixo de Numão - quando deu o alerta aos trabalhadores "Fujam, fujam, depressa!". Espantados, os dois ajudantes não se fizeram de mancos e num ápice ganharam lonjura do local, atingidos em simultâneo pelas gargalhadas de gozo do arqueólogo. "Pensávamos que ele estava a falar de víboras, que há por aí muitas", queixaram-se os dois homens, enquanto Sá Coixão ainda hoje se escangalha a rir quando fala no episódio. A brincadeira acabou por desvendar uma fortuna em moedas romanas, muitas delas já defeituosas e todas sem excepção com uma coloração esverdeada que cobre as figuras e dizeres impressos nas ditas.O tesouro está datado do século IV, quando os povos bárbaros começaram a invadir o território do império romano. "Quem tinha algum dinheirinho amealhado tratou de o esconder, esperando voltar a casa mais tarde", presume o especialista, admitindo que nos casos em que os donos foram mortos ou tiveram de fugir para longe acabaram por deixar para trás os haveres.Embora exista mercado clandestino para este tipo de achado, a verdade é que a fortuna do Vale do Mouro não dá para comprar absolutamente nada nem é passível de ser trocado por euros. "Isto passa a ser património nacional", refere Coixão. Um museu, que a freguesia da Coriscada ambiciona, poderá ser o destino final do tesouro, depois de devidamente tratado por especialistas para avivar as inscrições e evitar que se deteriorem mais em contacto com o ar. Para além do tesouro romano, outro dos grandes achados do Vale do Mouro é um painel de minúsculos mosaicos policromado, com seis cores, onde sobressaem, de acordo com Sá Coixão, as figuras de Baco (o deus do vinho para os romanos) e da sua acompanhante. O painel estende-se ao longo de uma sala em forma de L e apresenta-se bastante deteriorado em alguns pontos. Tal deveu-se à queda dos muros do edifício e ao crescimento das raízes das árvores. Os mosaicos encontrados fora do sítio foram encaixotados e, talvez um dia, "se houver dinheiro para a musealização do local possam ser repostos". As escavações regressam no próximo Verão ao Vale do Mouro, onde já foram descobertas também umas termas senhoriais da mesma época, bem como um pequeno lagar de vinho.
Fotos de: Eduardo pinto.

Sem comentários: